quinta-feira, 25 de março de 2021

Sabe quem é ela...

Sabe quem é ela...

É ela...

Que me incomodava o olhar oblíquo e dissimulado, será que é porque via os meus? 

É ela...

Que me incomodava o entra e sai, toda hora vai volta, e a porta bate, tirando a atenção de quem fala e tomando conta da cena, será que você é minha falta de coragem de sair de cena?

É ela...

Que fuma, um, dois, três e entre tragadas vicia, é fumaça, é fala, e fala muito. Será que sou o medo, pois tuas coisas o ministério adverte, faz mal, e tantas coisas que fazem mal no mundo e aceito...

É ela que canta, onde desafino, é ela que toca quem tem vontade, é ela que me incomoda por ser exatamente meu reflexo daquilo que eu muito não quis ser, daquilo que fugi...

É ela, elemento fogo, vênus em água, menina quente, rápida e sagaz, eu sei que meu mundo rio te traz para a emoção de ser, sobre ser menina, emoção e amor, nem só de paixão você vive, precisa da ancora em terras firmes. 

Sabe quem é ela?

Uma moleca, uma mulher, uma flor... Não vive sozinha, vive nas suas ilusões que eu rimaria com inclusões e muitas soluções. Acho que por isso ela canta, ela rosna, balbucia e sorri, pois nas letras das canções, vê pessoas, vê soluções, daquilo que solução não há.... Será?

Sabe quem é ela...

Enquanto você tão Electra, eu tão Edipiana, são tantas sobras e tantas faltas, tantas diferenças e quando te vejo, olha o espelho, espelhando em mim, tanto de você, e pouco em mim e vice-versa assim...

Sabe quem é ela...

Aquelas músicas de Caetano, o dedilhar dos dedos dele na vida e na forma vivida, também calma, serena e família. 

Á quem diga que não, que absurdo, que devaneio meu.... É sim, ela cozinha, cuida das plantas e cultiva laços, quem não percebe de fato não a conhece, apenas imagina...

É ela, menina do gin, suas ressacas afogam suas indagações, um dia cresce, vira casca, grossa como se diz.... Não é fácil ser e permanecer. Menina das exatas, porém rebelde, foi para as humanas e segue, porque a diferença esteve sempre com ela, o diferente lhe atraí, o velho, o abstrato, o subjetivo... 

Sabe quem é ela...

Uma artista que revi um dia qualquer na esquina de um bar, seu toque encantou, tive impressão que não conhecia, insisti e percebi que ela sempre esteve ali, sempre foi ela, seu jeito, seu dengo, seu sorriso e sua franja.

É ela, Caroline, menina dos meus imaginários de uma juventude que não vivi, e ela me faz jovem toda vez que reluz em minha porta e diz: 

 O que está fazendo? 

Esperando você, menina dos meus olhos...

É ela...


Simone Bitencourt    

domingo, 21 de março de 2021

Moço

 De todas as vezes que penso em você, nada é mais lindo que seu sorriso...

Moço despretensioso, chega devagar, olha devagar e se aninha devagar, tenta beijar, não importa quem seja, desde que seja beijos.... Eu roubei seu beijo e junto o bombom que desvendava o céu da sua boca, prefiro roubar do que ser roubada, ganhei de você...

De todas as vezes que penso em você, nada é mais lindo que seu sorriso...

Moço, de todas surpresas, como eu não te conhecia? Por onde andavas que nunca tropecei em você.... Deitaria no teu colo fácil, você é fácil, difícil é ficar...

Moço, ariano que ama estar entre minhas pernas, entre minha boca, ouvidos e cabelos, você se emaranha nos meus cabelos e fala baixinho coisas que gosto de ouvir, você sabe o que gosto de ouvir, precisamos de sol para saber que é hora de repousar e ficar no seu peito, ancorada no seu ser...

De todas vezes que penso em você, nada é mais lindo que seu sorriso...

Moço, você com essa voz arrastadinha é o charme que me convence de qualquer coisa, e eu gosto de acreditar, eu gosto de te ouvir falar, pois teus olhos falam junto, é adorável seu castanho no meu azul... Meu brinde de Ano Novo, minha embriaguez e minha ressaca...

Moço, para você eu me desmonto, e quando canta Belchior, vejo cada letra em você, moço você é as letras de Belchior, você não é o que a cabeça pensa, mas o que a alma deseja, e entre goles de cerveja, você abraça, bem devagar, mas não é para você se apaixonar, e sim, quem você abraça apaixona- se por esse coração selvagem. Tento compreender sua solidão, mas a pressa de viver é minha, então eu não tenho medo de correr perigo...

De todas as vezes que penso em você, nada é mais lindo que seu sorriso...

Moço, nas suas mãos me sinto as cordas do teu violão, leve e cheia de detalhes, e quando distantes, mesmo você sendo esse moço sem redes sociais, a gente se conecta, meu arquivo ama seu ser.…será que o seu também? 

Moço não sei dizer o que sinto, mas sinto tantas coisas, e quando penso, desejo cada momento, desejo seu cheiro e até suas meias sujas que tem mania de esquecer, moço de tons cinza, nunca pensei gostar de cinza, nesse meu mundo colorido e cheio de imaginação, mas você tem dons e tons que me desafia a entender...

De todas as vezes que penso em você, nada é mais lindo que seu sorriso...





Simone Bitencourt 


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O caos das incertezas amargas

Certo dia, um daqueles, de ir e vir onde minha locomoção é Uber, entrei em um, e como falante que sou, meu bom dia sempre tem entonação de um continuar a prosa, o senhor que dirigia me levando para algum lugar que já não lembro, me disse algo que ficou em meu pensamento, disse ele: “2020 é o ano que queremos esquecer para sempre, e para sempre nunca iremos esquecer”.  Fiquei pensando naquelas palavras e olhando pela janela enquanto paisagens passavam por mim, indagando os porquês de esquecer 2020...

Penso que datas são inesquecíveis, subjetivas para cada ser, algumas queremos lembrar para todo sempre, como um nascimento, o conhecimento, o amor, a paixão e o florescer de abundâncias. Mas tem as datas que queremos esquecer pois lembra morte, amargor, ansiedade, desilusão e medos, aí está o nó, cuidando para não viver os traumas do receio do medo vivido. 

O que difere lembrar 2020, é o medo coletivo, o mundo entrou no caos das incertezas amargas e certezas de muitos funerais.  As ruas esvaziaram, o silêncio tomou conta, as bocas se calaram abafadas atrás de máscaras, a camuflagem do medo, onde a única nudez está nos olhos, amedrontados. Veio a ansiedade, o desespero de ficar em casa, a angústia de suportar o outro e muitas vezes suportar a si mesmo. As paredes tornaram-se espelhos gigantes, e olhar para dentro é assustador, machuca e até mata, há quem não suportou. 

Pandemia....miando, sussurrando por todos os cantos, amedrontando. Na mídia, corpos mortos, amontoamento, famílias chorando, nem funeral, nem despedida. Findou.

Pandemia... o olhar para o outro, o cuidado com nossos entes, o medo da perda.

Pandemia.... do descaso da saúde pública, nem respirava mais, vivia por aparelhos...eis a pandemia, o Brasil de joelhos, heróis vestidos de branco, o SUS renasceu. 

Pandemia....há quem diga em energia, dizem que o mundo implorou por mais humanidade, compaixão e reciprocidade, mas digo ao mundo, que muitos não vão entender, tem doenças que não tem cura. Sevcenko escreveu “No loop da montanha russa” sendo assim a massa consumista e capitalista parece doença maligna. Cazuza cantou para os miseráveis que vagam pelo mundo derrotados e disse mais, que muitas piscinas estão cheias de ratos, e vimos assim tantas discrepâncias de falta de sensibilidade e ganância. Renato Russo sempre gritou: “que país é esse”, então está tudo bem? Não. Só a vacina não basta. Sinto muito.

Em todas as datas, anos ou séculos, vivenciamos a falta, a ganância e a não reciprocidade, e o mundo sempre vai agir, a natureza vai reagir e nós seres humanos muito pouco absorvemos o porquê de existir e ser para si e para o outro.

Pandemia é o olhar para o espelho, o que sou para que sou e estou, “ser mais dentro”, a pandemia nos extraiu de fora e nos pôs para dentro, literalmente para dentro de casa, raiz, estrutura, resta saber o que vamos aprender com tudo isso e quando as portas se abrirem e sorrisos se amostrarem de novo, antes escondidos por panos enfeitados. 

Pandemia... há quem que não se protegeu, se aglomerou e culpou a tirania do poder e até achou que era uma “ gripezinha”, a arrogância ou até mesmo a corda bamba de bêbados equilibristas, sobriedade não existe. 

Tantas reflexões em uma simples frase de um senhor motorista, e tantas indagações pairam aqui ainda, e sinto em pensar, que muito pouco se aprendeu e a nova data tão esperada, essa chamada 2021, pouco vai nos dar, se não escutarmos o que a pandemia 2020 veio no falar. 


Simone Bitencourt